Descrição sumária do projecto Durante o século XX, a procura por solos com apetência agrícola e com disponibilidade de água resultou na perturbação/destruição de numerosas zonas húmidas (lagoas, turfeiras, pauis, interdunares húmidos,…). O Paul de Manique do Intendente, localizado no Município de Azambuja (distrito de Lisboa), não foi excepção e durante décadas foi drenado artificialmente e intervencionado no sentido do seu aproveitamento para produção de variados produtos (milho, melão, …). A partir dos anos 90 a pressão humana desapareceu e em consequência o paul voltou a apresentar um espelho de água importante para que algumas espécies (principalmente avifauna) o considerem fundamental para repousar, nidificar ou mesmo residir, tendo aumentado muito o número de espécies e de indivíduos de cada espécie que de ano para ano aparecem no Paul de Manique, pois o ritmo de desaparecimento de zonas húmidas em Portugal e no mundo é galopante assim como a extinção das espécies. Esta zona húmida, associada à planície de inundação do ribeira-do-Judeu, é única na região, tendo outras vizinhas de génese idêntica sido completamente aterradas e modificadas pelo ser humano (ex: Paul da Marmeleira, destruída em 2016). Encontra-se num processo de recuperação e renaturalização lenta e, hoje, perante o actual quadro de alterações climáticas, é ainda mais imperativo a conservação e preservação destes locais. É por estes simples factos que proteger o Paul de Manique é que cada vez mais um imperativo categórico. No entanto para proteger é necessário conhecer! Desde 2011, o Mun. de Azambuja e a Escola Básica de Manique do Intendente, pela mão do professor de Ciências Naturais da escola, aproveitaram a proximidade geográfica ao paul para este integrar a rede de estações do Projecto RIOS, monitorizando, a qualidade da água e identificando espécies e ecossistemas. Em 2017 o ICNF iniciou campanhas de contagem/anilhagem de avifauna. Em 2018, uma docente da Faculdade de Engenharia da Universidade Lusófona, iniciou campanhas de monitorização ambiental (água e sedimentos) e acções de divulgação de ciência para o público em geral, integrando o Paul de Manique no Programa de Ciência-Viva (Geologia no Verão). Em 2019 juntam-se aos trabalhos de monitorização iniciados outros especialistas da ULHT para a caracterização da biodiversidade (fauna e flora, microbiologia), e também especialistas em hidrogeologia e botânica, da Faculdade de Ciências da Univ. de Lisboa. Os registos científicos compilados até ao momento destaca-se a identificação de cerca de 120 espécies de aves (Victor Encarnação – ICNF – Anexo 1), algumas com estatuto de conservação de acordo com Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e do registo, no passado mês de Maio de Juncus valvatus, planta protegida por lei (Dec.-Lei nº 140/99, Dec.-Lei nº. 49/2005 e seguintes Manuel João Pinto, com.pess FCUL) e a identificação e registo de 388 espécies (Anexo 2), obtidas desde Agosto/2019, por um voluntário do paul (Paulo Rocha) nos últimos 10 meses . O paul tem o potencial para funcionar como um nó importante na rede de estruturas ecológicas lineares da região, que são atractivas para inúmeras espécies animais com maior ou menor dependência da água. Para este aspecto muito contribui os habitats na envolvência do Paul com matos em diferentes estados de evolução, sobreirais, juncais e uma galeria ripícola que pode ser recuperada. Os dados recentes justificam o sentimento da equipa que continua na persecução do desejo de classificação desta zona húmida como Reserva Natural Local e posterior inscrição na lista da Rede Nacional de Áreas Protegidas de Portugal (RNAP do ICNF). Face ao histórico do uso do solo desta zona húmida e da sua actual renaturalização, a comunidade científica envolvida no estudo do paul é unanime no reconhecimento dos valores naturais aqui identificados (bio e geodiversidade), pelo que é imperativo, através da informação, sensibilização, Educação Ambiental e da sua ligação à economia e gestão deste território, divulgar as dimensões ética, estética, identitária e cultural, diminuindo a perda da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas, apelando a uma gestão sustentável dos georrecursos locais. O paul de Manique coexiste com uma comunidade local que desenvolve algumas actividades na dependência daquela zona húmida (apanha de bunho), utilização dos solos para agricultura (principalmente vinha nas encostas do vale da ribeira do Judeu), utilização de água superficiais e subterrâneas para rega (nascentes, poços, ribeira e paul), caça, passeios, educação, etc. É importante compatibilizar a gestão deste território, das suas gentes e suas actividades, considerando o valor do sistema natural, pela riqueza que gera mas também pelas funções sociais, culturais, ecológicas e de sustentabilidade. É neste sentido que se pretende desenvolver uma série de iniciativas para divulgar o valor natural deste território, consultando e envolvendo a comunidade local para levar a uma tomada de consciência e mudança de atitudes, valorizando a bio e geodiversidade locais e o papel dos serviços dos ecossistemas, essenciais à vida humana e atividades económicas.
Objetivos Os objectivos principais deste projecto estão de acordo com as estratégias do ENEA 2020, procurando a equipa desenvolver iniciativas de Educação Ambiental procurando utilizar estratégias definidas nos Obrjectivos Estratégicos do ENEA 2020, procurando implementar uma Educação Ambiental + Tranversal, Educação Ambiental + Aberta e Educação Ambiental + Participativa. As iniciativas propostas nesta candidatura consistem em auscultar a população, a comunidade escolar, os empresários, os agentes de comunicação social e os técnicos da administração local sobre o reconhecimento que têm dos valores naturais (BIO e GEOdiversidade) e da sua importância para a gestão participada daquele território. Pretende-se capacitar os vários actores locais com mais conhecimento sobre o paul de Manique e sobre a sua importância para conduzir à mudança de atitudes e desenvolver na comunidade local estratégias para inclui o paul, a sua diversidade e os seus produtos nas suas actividades económicas, conduzindo ao desenvolvimento de novos produtos locais/regionais. Um maior conhecimento suportará uma escolha mais acertada de estratégias e ações que conduzam à preservação do património em causa, sua valorização e apropriação pela comunidade com consequente promoção de uma região rural de interior alicerçada nos recursos endógenos, no património natural e na ideia de sustentabilidade. Este projecto terá sempre como fio condutor a criação da futura Reserva Natural Local do Paul de Manique, envolvendo a comunidade nessa tomada de decisão e em processo de apropriação dos valores da causa.
©Anabela Cruces